sábado, 7 de maio de 2011

O Desenvolvimento Motor e sua importância para os professores de Educação Física na formação de habilidades esportivas em crianças.









REZENDE, Maria Carolina – UFS[1]

keke_carol@hotmail.com


RESUMO

Sendo o movimento o objeto de estudo da Educação da Educação Física, e o resultado observável e mensurável do comportamento motor, este deve ser estudado desde os primeiros anos de vida da criança, principalmente durante a infância, para que se possa compreender o processo de desenvolvimento e aquisição de habilidades motoras básicas. Sem um profundo conhecimento dos aspectos do desenvolvimento motor das crianças, os professores somente podem supor as técnicas educacionais e os métodos de intervenção apropriados. Desta forma o nosso trabalho teve como objetivo identificar a compreensão dos professores de Educação Física, que trabalham com o futebol, e de instrutores de futebol acerca do processo de desenvolvimento motor e de habilidades motoras necessárias à prática do futebol em crianças. Para tanto, realizamos uma pesquisa descritiva, já que esta consiste em descrever e entender como um fenômeno ocorre em uma dada realidade. Os sujeitos constituintes da pesquisa foram oito professores, que trabalham com o futebol e cento e onze crianças, de cinco a doze anos, que praticam futebol do município de Aracaju-Se. Como instrumentos para coletar os dados, utilizamos a entrevista estruturada e testes. Durante o processo de análise dos dados constatamos que os professores que trabalham com o futebol precisam de uma melhor fundamentação teórica, acerca do desenvolvimento motor das crianças, para planejar e conduzir suas aulas.

Palavras Chave: Desenvolvimento Motor, Aprendizagem Motora, Esporte e Professor de Futebol.

O DESENVOLVIMENTO MOTOR NA INFÂNCIA

Durante muitos anos o estudo do desenvolvimento humano tem sido de grande interesse para estudiosos e educadores. Gallahue; Ozmun (2005) dizem que o conhecimento dos processos de desenvolvimento está presente na sala de aula, num ginásio ou no campo de esportes. Sem um profundo conhecimento dos aspectos do desenvolvimento do comportamento humano, os professores somente podem supor as técnicas educacionais e os métodos de intervenção apropriados.

O estudo do desenvolvimento motor tem como matriz histórica duas disciplinas, a Biologia e a Psicologia. A complexidade comportamental do ser humano requer obviamente metodologias de abordagens diferentes daquelas que são possíveis e aplicadas em outros seres vivos. Enquanto que os modelos e as teorias biológicas influenciam na generalidade de todo o estudo de organismos vivos, a Psicologia, no geral, restringe esse âmbito a seres humanos, observáveis ao longo do processo de desenvolvimento, normalmente envolvidos em processos complexos (TANI et.al., 1988).

Em seus trabalhos, Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos e Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista, Gallahue; Ozmun (2005) e Tani et.al. (1988), respectivamente, procuram explicar e conceituar o processo de desenvolvimento com todos os seus elementos e variáveis, baseado em pontos de vista teórico-específicos.

Como ponto necessário para a compreensão do trabalho é importante conhecer e compreender os conceitos de desenvolvimento e desenvolvimento motor. Morgan (1977) apresenta o desenvolvimento como um processo através do qual, o indivíduo constrói ativamente, nas relações que estabelece com o ambiente físico e social, suas características. Seguindo este raciocínio Tani et.al. (1988) conceitua o desenvolvimento motor como uma área que estuda, permanentemente, os aspectos do comportamento motor, desde sua concepção até a morte, relacionando-os com o fator tempo, assim, “o estudo do desenvolvimento motor procura compreender as mudanças no comportamento motor em relação ao ciclo de vida” (BENDA, 200_, p 157).

A fim de se compreender melhor o desenvolvimento motor e a progressão do controle do movimento foram elaborados uma série de modelos teóricos, também chamados de taxionomia. Neste trabalho, serão estudados os modelos apresentados por Gallahue; Ozmun (2005) e Harrow (1983) apud Tani et. al. (1988).

Gallahue; Ozmun (2005) propõem um modelo de seqüência, com o objetivo de servir de base para a aquisição de habilidades motoras especializadas (esportivas). O modelo apresentado por ele é o da ampulheta heurística[2], que oferece algumas orientações para a compreensão do comportamento motor. A ampulheta representa o desenvolvimento motor no decorrer da vida e esta é classificada por fases de desenvolvimento (fase motora reflexa, fase motora rudimentar, fase motora fundamental, fase motora especializada).

Anita Harrow (1983) apud Tani et. al. (1988), a fim de facilitar o estudo acerca do desenvolvimento motor, elabora uma taxionomia, que também propõe uma seqüência de desenvolvimento, partindo de movimentos simples para habilidades mais especializadas (movimentos reflexos, habilidades básicas, habilidades perceptivas, capacidades físicas, habilidades específicas, comunicação não-verbal).

A construção deste trabalho se fundamenta nos conceitos de estudos desenvolvimentistas e este, por sua vez, apresenta uma maneira peculiar de ver e conceber a infância por etapas. A criança é fragmentada em uma série de comportamentos, e para uma melhor compreensão e estruturação do presente texto, o comportamento motor receberá uma maior dedicação.

Falcão (1989) diz que o comportamento, num sentido muito estrito, como usado pelos behavioristas, corresponde às ações publicamente observáveis de um organismo (ações, aspecto motor). Sendo o movimento a base do domínio motor, o comportamento motor ou psicomotor (por envolver uma série de operações cognitivas), “inclui os processos de alteração, estabilização e de regressão na estrutura física e na função neuromuscular”. (GALLAHUE; OZMUN, 2005, p. 16).

Tal processo pode ser classificado como desempenho motor, que está ligado aos componentes da aptidão física (força, flexibilidade, RML, resistência aeróbia e composição corporal), e também está relacionado ao desempenho (velocidade, agilidade, coordenação e equilíbrio). A outra classificação corresponde às capacidades motoras que inclui três tipos de comportamento: manipular ou mover objetos, controlar o corpo ou objetos em equilíbrio, mover ou controlar o corpo ou parte dele no espaço. (SINGER, 1980 apud TANI, 1988).

As capacidades motoras de manipulação, locomoção e de estabilização estão diretamente ligadas ao processo de formação de habilidades motoras, sejam elas esportivas (um chute no futebol), ou habilidades usadas no dia-a-dia para trabalhar, locomover-se, brincar etc. (MAGILL, 1984).

Além da área psicomotora, o comportamento humano abrange a área cognitiva, da qual fazem parte as capacidades que envolvem raciocínio, ou seja, as características intelectuais (o reconhecimento e o armazenamento de informações), que envolvem a relação funcional entre corpo e mente, isto é, como o organismo se utiliza das informações que dispõe, e a área afetiva que envolve os sentimentos e emoções, por meio dos movimentos, aplicado a si mesmo e ao outro (GALLAHUE; OZMUN, 2005; MAGILL, 1984).

Tani et. al. (1988) destaca que apesar de em um determinado momento, o comportamento observado possa ser caracterizado como sendo um destes três domínios, há, na maioria dos comportamentos a participação de todos os três domínios. A predominância de um deles não descarta a existência dos outros dois. Desta forma quando se estuda o comportamento humano, dois princípios devem ser considerados: o da totalidade e o da especificidade.

O princípio da totalidade se reporta à participação de todos os domínios de uma forma integrada. Enquanto que, o princípio da especificidade se reporta à predominância de atuação de um domínio sobre outros (Op. Cit.).

As estruturas fisiológicas também estão presentes no comportamento motor, assim, “o movimento é gerado através de complexas interações que ocorrem a nível do Sistema Nervoso Central e Periférico, que processam informações sensoriais” (Op. Cit., p. 6). Isto apresenta como resultado padrão de impulsos, que atingem os órgãos efetores (músculo, sistema cárdio muscular, etc.), todos envolvidos com o movimento.

Os movimentos permitem ao ser humano solucionar problemas, comunicar-se, expressar a criatividade, os sentimentos, explorar o meio ambiente e agir sobre ele. Eles fazem parte do nosso processo de evolução; seja desde a criação de ferramentas rudimentares a aparelhos tecnológicos modernos ou desde o nosso nascimento, do primeiro contato que temos com o mundo à nossa ação sobre eles. O somatório e a relação de todas essas atividades humanas realizadas através do movimento trazem aos seres humanos benefícios biológicos, sociais e afetivos e cognitivos, estando todos estes interligados. Assim é que a Educação Física deve analisar o comportamento motor, não sendo mais o movimento pelo movimento, mas sim como sendo uma relação dinâmica entre o ser humano e o meio ambiente. (Op. Cit.).

A APRENDIZAGEM MOTORA

Conforme o proposto por Gallahue; Ozmun (2005) segue-se ao processo de desenvolvimento motor, a aprendizagem motora.

O termo Aprendizagem é definido por Magill (1984, p. 12) como sendo “uma mudança interna no indivíduo, deduzida de uma melhoria relativamente permanente em seu desempenho, como resultado da prática”. Acrescenta-se ai a palavra motora para especificarmos o tipo de aprendizagem ao qual estamos nos referindo. Para Schmidt; Wrisberg (1993) a aprendizagem motora é um conjunto de processos associados com a prática ou a experiência, conduzindo mudanças relativamente permanentes na capacidade para executar um movimento habilidoso.

Jesus (1995) diz que o processo de aprendizagem motora, que representa como o comportamento motor acontece, tem sido estudado por vários pesquisadores e, portanto, algumas fazes de aprendizagem têm sido identificadas. A passagem de movimentos simples para movimentos complexos perpassa por estágios de aprendizagem desenvolvidos por Fitts e Posner (1965) apud Jesus (1995), Magill (1984), Tani et. al. (1988). O modelo de Fitts e Posner (1965) apud Jesus (1995), Magill (1984) é composto por três estágios: cognitivo, associativo e autônomo. No primeiro estágio, o estágio cognitivo da aprendizagem motora a criança apresenta uma série de dúvidas ao iniciar a realização de uma dada tarefa. O primeiro problema está ligado a questões relativas à identificação dos objetivos, ao que fazer quando e quando fazê-lo (SCHMIDT; WRISBERG, 1993). Singer (1986) apud Jesus (1995, p.192) “refere-se à elaboração pelo aprendiz, do plano motor, da habilidade a ser aprendida”.

Este estágio é caracterizado pelo grande envolvimento cognitivo, por uma grande quantidade de erros e pela presença constante do professor. Assim, esta fase relaciona-se com a organização do movimento, onde o aprendiz pensa e estuda o movimento (a sua natureza, técnica, objetivo), a natureza dos erros cometidos tende a ser grosseira e necessita da intervenção do professor para sua correção.

A fase cognitiva também é marcada pelo desempenho altamente inconsistente. Apesar de o executante estar fazendo algo errado, geralmente não sabe exatamente o que deve mudar na próxima tentativa para melhorar seu desempenho. Conseqüentemente, ele necessita de alguma informação específica, que o ajudará a corrigir seus erros (MAGILL, 1984 apud JESUS, 1995).

Para que o professor possa ter uma contribuição real na identificação e correção dos erros apresentados pelos alunos ele deve conhecer o processo de desenvolvimento motor, de aprendizagem motora e a habilidade a ser ensinada, transmitir as informações de forma clara e respeitando as diferenças individuais de cada aluno.

O estágio seguinte denominado de estágio associativo da aprendizagem motora caracteriza-se pela programação da ação, e o controle dos movimentos torna-se mais eficiente, exigindo menos atenção para sua realização. Ele desenvolveu uma capacidade de detectar alguns de seus próprios erros ao desempenhar a tarefa (MAGILL, 1984).

Marteniuk (1976) apud Jesus (1995) diz que o professor deve preocupar-se em introduzir, de forma seletiva, alguns elementos do ambiente que o aprendiz ainda não tenha percebido e que são importantes para uma melhor percepção e execução do movimento, bem como, deve introduzir também alguns elementos de natureza irrelevante, mas necessária para que o aprendiz aprenda a fazer sua seleção e considerar apenas aquelas informações importantes.

O estágio autônomo da aprendizagem motora, o último dos três estágios, é onde “o aprendiz desenvolve uma capacidade não só para detectar seus próprios erros mas também que espécies de ajustes são necessários para corrigir os erros” (Op. Cit., p. 43) e isto é decorrente do treinamento contínuo. O aprendiz executa o movimento de forma automática e não se prendendo mais na execução do movimento e sim nas condições que o meio lhe oferece para que tal seja realizado. Singer (1986) apud Jesus (1995, p. 153) diz que:

Neste nível, o executante é capaz de processar facilmente a informação com um mínimo de interferência de outras atividades. A atuação torna-se automática, quer dizer, usa-se o mínimo de controle consciente para a execução de determinados movimentos (Op. Cit.)

Compreender os estágios de aprendizagem é importante, por constituírem parte integrante da determinação das estratégias instrucionais mais adequadas que devem ser utilizadas ao ensinar habilidades motoras.

Para que o aluno chegue ao estágio autônomo na execução de habilidades motoras, a partir de um plano de ação a ser selecionado é preciso que haja o processamento central das informações. Pellegrini (1985, p. 23) conta que “de acordo com a teoria do processamento de informação o ser humano é visto como um sistema que transforma e armazena informações”.

Tani et. al. (1988) diz que o movimento é um comportamento observável e produto de processos que acontecem internamente ao indivíduo. É este processo interno que nos servirá de objeto de estudo. O processamento de informações acontece a nível do Sistema Nervoso Central (SNC) a partir de estímulos captados pelos órgãos dos sentidos e é dividido em mecanismos. Estes mecanismos podem ser observados e estudados a partir de um modelo apresentado por Marteniuk (1976) apud Greco; Benda (1998).

O primeiro mecanismo, o perceptivo, recebe as informações transmitidas pelos órgãos do sentido, classifica e organiza estas informações. Além de captar o estímulo, a criança tem de ser capaz de prestar atenção e selecioná-los de acordo com a prioridade e necessidade de utilização no mecanismo seguinte (PELLEGRINI, 1985).

Dando seqüência ao processamento da informação captada, chega-se ao mecanismo de decisão. Nele é escolhido o plano motor de acordo com os objetivos do indivíduo ou da tarefa. (TANI et. al., 1988). Pellegrini (1985) diz que a seleção desta resposta dependerá do tempo de reação de cada criança, ou seja, da capacidade que ela possui de identificar um estímulo e selecionar uma ação adequada, em um menor tempo possível, e das informações já armazenadas na memória delas.

Após passar pelo mecanismo de decisão e todas as suas propriedades limitantes, a informação será enviada ao mecanismo efetor. O mecanismo efetor é o último dos três mecanismos responsáveis pelo processamento de informação, ele é responsável pela organização hierárquica (do geral para o específico) e seqüencial do movimento para que a informação processada possa ser enviada para os músculos (GRECO; BENDA, 1998).

Neste momento, os músculos estão sob o controle dos comandos motores e, após um intervalo de tempo, estão também sujeitos à influência e controle do feedback (TANI et. al., 1988). Há diversas formas de realizar o feedback (visual, verbal, cinestésico) e elas devem ser aproveitadas pelo executante para melhorar a performance durante a execução (feedback intrínseco) ou após a execução do movimento (feedback extrínseco). Como resultado do feedback, um novo plano motor é programado, executado e avaliado, e este processo é repetido até a obtenção do objetivo.

MÉTODO E MATERIAIS

Para a construção do nosso trabalho utilizamos o tipo de pesquisa descritiva, pois, esta consiste em descrever e entender como determinado fenômeno ocorre em uma dada realidade.

A nossa pesquisa foi realizada em oito instituições, que oferecem, como prática esportiva, o futebol. Escolhemos três grandes escolas particulares, da zona sul do município de Aracaju, por estas possuírem grande representatividade na sociedade local, apresentando à mesma o êxito obtido nas diversas competições locais e regionais. Optamos ainda, por três escolinhas de futebol, também na zona sul do município de Aracaju, por possuírem como característica um espaço de lazer para as crianças, nos horários em que não estão na escola. E escolhemos também duas escolinhas de futebol que são voltadas para a formação de atletas e para a seleção de novos talentos.

Quanto aos sujeitos do nosso trabalho, contamos com a participação de oito professores de futebol, dentre os quais, um professor possui pós graduação, três possuem Nível Superior completo, dois professores estão em fase de conclusão no curso de Educação Física e os outros dois possuem o Ensino Médio completo. Estes professores foram abordados de modo que pudessem esclarecer sobre os seus entendimentos acerca do desenvolvimento motor, da aprendizagem, dos elementos que permeiam ambos os processos e de como estes se materializam em suas ações através de seus planejamentos.

Além dos professores de futebol, investigamos seus alunos, através da aplicação de testes. Foram cento e onze crianças, todas do sexo masculino e praticantes de futebol. A investigação das crianças ocorreu com a finalidade de podermos estabelecer uma relação entre a fala dos professores e o resultado dos testes aplicados aos alunos.

Para a coleta dos dados utilizamos dois instrumentos: a entrevista e o teste. , Nos utilizamos da entrevista estruturada, que estava composta por oito questões contidas num formulário que possui questões acerca dos dados pessoais dos entrevistados e questões relativas ao objeto de estudo de nosso trabalho. O teste está estruturado com dez atividades a serem realizadas pelas crianças, está classificado por categorias de movimento que envolve as habilidades fundamentais (manipulação, estabilização e locomoção), que por sua vez está dividido em estágios (inicial, elementar e maduro).

A coleta de dados teve início no mês de março de 2007 e foi concluída no mês de abril de 2007. Para iniciar a coleta entramos em contato com as instituições, selecionadas por nós, a fim de verificar junto às mesmas a possibilidade de realização do trabalho. Em seguida conversamos com os professores/instrutores, explicamos o trabalho e somente então marcamos os dias das entrevistas e dos testes. As entrevistas e os testes ocorreram nas próprias instituições. Antes da realização das entrevistas pedimos para os entrevistados, permissão para que as respostas pudessem ser gravadas, a fim de facilitar a entrevista. Todas as entrevistas foram gravadas em um aparelho de MP3, que foram transcritas, assim que possível, logo após a sua realização.

Para a aplicação dos testes procedemos da seguinte forma: no início reunimos as crianças, nos apresentamos e explicamos o que pretendíamos fazer e que para tanto, seria necessário a colaboração de todos. Antes de iniciar os testes recolhemos os nomes e a idade de cada aluno, que foi anotado numa ficha de orientação para os testes, para que eles não se misturassem no decorrer das atividades. No início de cada atividade a ser feita foi explicado como que as crianças deveriam proceder para a realização das mesmas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O nosso trabalho teve como finalidade, identificar o estado de conhecimento dos professores de Educação Física e instrutores, que trabalham com o futebol, junto à rede de ensino e/ou “escolinhas” de futebol no município de Aracaju, acerca do desenvolvimento motor e de habilidades motoras necessárias à prática do futebol. Para que galgássemos êxito em atingir o objetivo de nosso trabalho, estruturamos nossa pesquisa com base em procedimentos metodológicos que permitisse-nos aproximar do fenômeno, de maneira a poder conhecê-lo. Para tanto, usamos testes com os alunos e entrevistas estruturadas junto aos profissionais que atuam com o futebol.

Assim, pudemos, com o nosso estudo, levantar algumas constatações. No tocante às considerações que os professores possuem acerca do desenvolvimento motor, da aprendizagem motora e os elementos que permeiam ambos os processos, percebemos que, a minoria dos professores que trabalham com o ensino do futebol começam a perceber, ainda que de forma superficial, a criança como um ser que está em constante desenvolvimento, em sua integralidade, em constante movimento, envolto por situações propícias à aprendizagem, e que, portanto, possuem uma capacidade de raciocínio, estabelecendo uma relação afetiva com ambiente e com as pessoas que as cercam. Levam em consideração, também, o fato das crianças estarem inseridas na sociedade, e como um ser pertencente a ela, sofre influências e influencia as outras pessoas em seu dia-a-dia.

Por outro lado, a maioria dos professores ainda consideram o desenvolvimento motor da criança de forma independente das demais influências existentes no ambiente, como se o desenvolvimento da criança dependesse apenas de sua maturação, sendo o fator etário, juntamente com o nível de habilidade, o principal instrumento de classificação e divisão das crianças, em categorias.

Os professores precisam compreender a questão do desenvolvimento motor como algo que é influenciado pela interação de fatores biológicos, culturais e pessoais, e que não é apenas um processo natural.

Quando nos reportamos às questões relativas ao planejamento das aulas durante o ano, considerando os meios para que a aprendizagem ocorra e os critério utilizados para planejar as atividades, concluímos que, apesar dos professores dizerem que planejam todo o seu trabalho e de reconhecerem a importância deste para o desenvolvimento da criança e para a aprendizagem motora dela, percebemos que os professores, mesmo que graduados, apresentam certa dificuldade de se apropriarem de alguns conhecimentos teóricos que fundamentam os seus planejamentos, com objetivos claros, uma seqüência lógica e ordenada no decorrer do ano, quanto à metodologia utilizada por eles, e por conta disso acabam apenas reproduzindo atividades, conduzindo um trabalho específico, voltado para o futebol.

Os testes aplicados com as crianças e analisados neste trabalho por nós, dada a sua relevância, nos revelam situações distintas. Apesar de grande parte das crianças se encontrarem num estágio maduro, dentro de cada padrão de movimento, a faixa etária em que elas estão é incompatível, com este estágio. Dentro das faixas etárias estudadas as crianças apresentam-se numa fase aquém da que deveriam estar, quando comparadas à literatura.

Estes dados apontam para uma dificuldade que os professores ainda possuem ao lidar com o desenvolvimento e com a aprendizagem motora da criança.

Conforme Gallahue; Ozmun (2005) e Tani et. al. (1988) o processo de desenvolvimento de uma habilidade motora esportiva é seqüencial e invariável para qualquer indivíduo, o que muda é a velocidade com que esse desenvolvimento ocorre. Para que este desenvolvimento aconteça dentro dos padrões, delimitados por um período etário em que cada criança se encontra é preciso que o professor tenha um embasamento teórico, que fundamente suas ações, que ele reconheça a importância de seu papel, a fim de corrigir, avaliar e propiciar às crianças vivências motoras diversas, que facilitem o desenvolvimento de um vasto acervo motor. O professor precisa ainda conhecer quais os fatores limitantes para um bom desenvolvimento motor de seus alunos.

O desenvolvimento motor e a aprendizagem motora abrem um enorme leque de possibilidades de pesquisas e são de grande relevância o seu estudo dentro da Educação Física, por acreditarmos que estes, ainda que diretivos, são pouco conhecidos, no sentido de sua real aplicabilidade e funcionalidade nas aulas de Educação Física, nos treinamentos de algum esporte nos jogos infantis e nas atividades diárias das crianças.

REFERÊNCIAS

BARROS, C.S.G. Pontos de Psicologia do Desenvolvimento. 6ª ed. São Paulo: Ática, 1991.

BENDA, R. N. Desenvolvimento Motor da Criança. In: BRASIL. Novos conceitos em Treinamento Desportivo. Minas Gerais: [s.n.], 200_.

FALCÃO, G.M. Psicologia da Aprendizagem. 5ª ed. São Paulo: Ática, 1989.

GALLAHUE, D.L.; OZMUN, J.C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: Bebês, Crianças, Adolescentes e Adultos. 3ª ed. São Paulo: Phorte, 2005.

GRECO, P.J.; BENDA, R. N. Iniciação Esportiva Universal: da aprendizagem motora ao treinamento técnico. Vol.1. Belo Horizonte: UFMG, 1998.

JESUS, J.F.de. Estágios de aprendizagem motora e suas implicações para o ensino de habilidades motoras. In: Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Rio Grande do Sul, UFSM, Volume 16, nº 3, Maio, 1995.

MAGILL, R. Aprendizagem Motora: conceito e aplicações. Trad. Erick Gerhard Kanitzch. São Paulo: Edgar Blucher, 1984.

MORGAN, C.T. Introdução à Psicologia. Trad. Auriphebo Simões. São Paulo: Mc Graw- Hill do Brasil, 1977.

PELLEGRINI, A. M. Aprendizagem Motora. In: ARAÚJO, Cláudio Gil Soares de (Coord.). Fundamentos Biológicos/ Medicina Desportiva. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985.

SCHMIDT, R. A.; WRISBERG, C.A. Aprendizagem e Performance Motora: dos princípios à prática. Trad. Flávia de Cunha Bastos et al. 2ª ed. São Paulo: Movimento, 1993.

TANI, G. et. al. Educação Física Escolar: Fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU/EDUSP, 1988.


[1] Graduada em Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe no ano de 2007, orientada pelo Profº Msc. José Américo Menezes – DEF/UFS.

[2] Segundo Gallahue; Ozmun (2005) heurística são regras e modelos que dão sugestões e orientações na procura de respostas para um dado problema.